terça-feira, 17 de novembro de 2009

Medo.

Amor.
Talento criado para arder e fazer viver. Uma chama que nunca se apaga, quando real.
E isso é bonito, dá cor, faz sorrir, faz pensar, faz suspirar, faz lembrar.
O amor é mais forte que a morte e é maior que o tempo.
Mas este amor se vê menor que o medo.
Não resistiria a outra decepção, a outra tragédia.
Esse amor se mostra vivo, mas oculto. Esse amor é apenas a esperança de um futuro incerto que não se arriscaria hoje.
E é claro que meu coração sorri a cada vez que vê aquele rosto, mas ele se partiria facilmente em mil pedaços após cinco minutos de pequenas verdades e lembranças de que aquela vida guardada tão cuidadosamente na memória não era tão perfeita quanto a saudade insiste em afirmar.
Aquele cheiro que não sai das minhas narinas, aquela voz docemente rouca que parece me chamar a toda hora, todos aqueles gestos e a cor da pele. Tudo está gravado como uma tatuagem escandalosa em meu peito. E é impossível escondê-la.
É impossível fingir, se quando olho em teus olhos e meu coração dispara e as pontas dos meus dedos ficam geladas.
Impossível esconder que resta algo de você em mim. E não foi por acaso que foi esquecido também algo de mim em seu coração... E muito menos por coincidência que estas coisas até hoje não foram jogadas fora, nem destruídas, nem apagadas. Sequer foram modificadas. Tudo continua da mesma forma como era quando ainda víamos os reflexos das nossas imagens no fundo de nossos olhos, quando nos protegíamos em nossos abraços e nos deitávamos em nossa passageira sensação de paz.
O tempo parou. Simplesmente parou naquele adeus.
E hoje, em nossas prisões de ouro, enjaulados nas situações às quais essa vida irônica nos acorrentou, nos rendemos ao conformismo e ao medo. Medo puro e simples. Assombroso e calmo. Menor que um susto.
Medo de não acertar, de arriscar, de fazer errado outra vez. Medo de sofrer, de precisar, de lutar. Medo de querer. Medo de ser dependente outra vez daquilo que nos faz mal e de chorar mais um pouco por uma separação que em nossos corações jamais existirá.
O medo nos acorrenta ao nosso dia-a-dia mecânico, à nossa rotina perdida em ações automáticas, e nos transforma em seres carentes daquilo que sabemos onde encontrar, mas não ousamos arriscar, lutar para nos aproximar.
Talvez seja só mais uma brincadeira com o meu coração para eu aprender a não mais querer o que já tentei destruir, ou talvez seja uma lição para aprender a não destruir o que eu quero. Um teste de paciência onde eu deva aprender a entender aquilo que amo e a preservar aquilo que tenho.
Mas o certo é que o amor nunca acabou, pois verdadeiro. E nunca fomos corajosos o suficiente para pormos um ponto final nessa história cheia de desencontros, porque somos ainda totalmente dependentes um do outro. E sabemos do que precisamos, e sabemos onde encontrar. E sabemos onde estamos, e sabemos como nos encontrar.
E temos o que queremos. Mas estamos perto demais para perceber a distância que há entre nós. E não temos coragem.
Essa é a verdade. Somos grandes covardes.
Talvez seja ainda tudo fruto da minha mente apaixonada por personagens que cria em seu íntimo para amar. Apaixonada pela lembrança de você em mim.
Lembrança que se materializou e surgiu diante dos meus olhos, dormindo em meus braços, como se eu tivesse voltado ao primeiro dia.
Tão perfeito... Tão perfeito.