quarta-feira, 23 de abril de 2014

Ciúme

Não suporto a ideia de alguém recebendo seu olhar de carinho.
Não suporto a ideia de alguém receber sua atenção.
Não suporto a ideia de alguém alguém conversando com você.
E não suporto a ideia de alguém respirando o seu hálito.
Não suporto a ideia de alguém te dedicando qualquer música.
Não suporto a opinião de alguém dizendo se sua mão é mais macia do que a sinto.
Não suporto a ideia de você deitado em uma cama mais quente que a minha.
Não suporto a ideia de alguém contando quantas sardas você tem em seu corpo.
Não suporto a ideia de alguém cantando pra você.
E não suporto a ideia de alguém tomando sua atenção.
Também não suporto a ideia de tomarem seu tempo,
Nem a ideia de alguém tomar algo no mesmo copo que você.
Não suporto a ideia de alguém julgando seu beijo.
E não suporto a ideia de você abraçando um coração mais quente que o meu.
Não suporto a ideia de alguém ouvindo sua voz.
Não suporto a ideia de alguém sentindo a textura dos seus lábios.
Não suporto a ideia de alguém te abraçar pra te salvar dos seus sonhos ruins,
Nem te abraçar enquanto estiver sonhando comigo.
Assim como não suporto você longe de mim.
E é assim que vou te vendo de longe.
Todo o tempo não suportando,
Te deixando morrer, aqui,
Dentro de mim.


sábado, 2 de novembro de 2013

Manhã bem assim,
Anoitecendo aos poucos,
E de pouco em pouco morrendo
Sem sequer enxergar os poros.
O sangue era como areia
Rasgando todos vasos.
Vasos rompidos, destruídos, mastigados.
Não poderia existir mais algo ali,
Simplesmente se foi o que havia.
O tempo de ser era de estar.
A vida de criar passou pelo coração,
Que nunca entendeu que seria solitário.
Por si. Por quem. Pour quoi?
Cadê?

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Raro

Te dou pistas e falo nada.
Se irrita e me dá um nome: Estúpido.
Vivo assim,
querendo te ver enterrado em meus seios.
Meus meios de ver, almejar, desejar, conseguir.
Mas você me consegue.... me consegue bem longe do meu querer,
 e por isso me faz esquecer do que eu quero.
Você me laça e sempre me derruba.
Me ataca, me devora e me destrói.
E depois reconstrói.... E desfaz e refaz e desfaz... e refaz e refaz e faz todo o ser em mim desarmar.
Desarma e entrega à dúvida.
Uma dúvida sem perguntas. Sem perguntar. Já não faz diferença.
Me lança em um infinito que me expande e me faz ver que estou apenas com você.
E isso me seduz.
Me traz de pouco em pouco à consciência de onde eu deveria estar: Com os pés no chão, com os pés no não.
Mas de repente me envolve de novo, me arrasa, me rouba e me larga,
me usa e me deixa... e eu quero mais.
E volta, como se nunca tivesse me conhecido antes, sabendo tudo de mim,
derrubando todas as muralhas que foram construídas por si, por mim, por nós,
e se abriga em meu abraço,
lançando-se em fim no fracasso de viver o que nunca soube.
Vivendo o que se teme, se sente, se pede:
ser só, ser único, tentando ser algo merecedor por si só:
Raro.

sábado, 27 de abril de 2013

Toque

Não toco,
não alcanço,
não sinto.
Onde estava tudo aquilo?

De onde vinha?
E por quê?
Parecia muito...

Qual foi o motivo de deixar a razão?

Me acabei, evaporei,
Já não existo.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Ciclos.

Pare de se perder,
Já não há mais nada a perder,
Apenas a dignidade,
E a pena alheia.

Pare de se entregar,
Já não há mais para quem se entregar,
Apenas aos momentos,
Que são ocos por completo.

Pare de pensar,
Já não há nada sobre o que pensar,
Apenas lembranças vazias,
E solitárias demais para si.

Pare de sonhar,
Já não há mais sobras para sonhar,
Apenas a imaginação que lhe resta,
E são poucas diante daquilo que nem vive.

Pare de viver,
Já não há humilhação para se viver,
Apenas um resto de si que vaga,
Está vendo aquele veneno?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Asas


Queria que tivesse saído sangue,
Que ardesse, doesse, morresse ou vivesse mais.
Mas logo que abriu os olhos viu que não foi nada.
Um resbalo, íngreme e fervoroso.
Às encostas de um abismo,
Junto à própria pena do medo de cair,
Sem cair.
Machucada ao chão onde se encontrava, nem levantou.
Não conseguia.
Ria-se e desdizia-se.
Como se a vida fosse apenas uma gangorra da qual se poderia pular a qualquer momento.
Mentes atentas diziam que não era bem assim.
Teimosia dessas... que se acha corajosa e que se sente soberba... não se atenta.
Se quebrou novamente, duas, dez, vinte vezes... sem saber.
Gostava de se machucar.
Sentiu os ossos rasgando sua pele... apenas suspirou, não via.
Não sentia dor.
Não sentia, não sente.
Só queria ficar esperando.

Armou-se novamente.
Sentindo-se fênix. Imortal.
E tentou voar com as mesmas asas quebradas de outros tempos.

Mas naquele momento a imaginação a acompanha em um túnel escuro,
Hostil e silenciosa,
Na velocidade da luz que a espera ao fim de uma chegada morna e sem uma dor tão dolorida quanto o tempo que não resta,
Percebe que nunca soube de nada,
Nem da própria dor, nem da angústia do que viveu outrora.
E perdeu-se no emaranhado de lembranças amadas de um dia.
Abriu os olhos quando já não pode mais nada tocar.
Percebeu suas fraquezas por não saber viver bem.
Então foi que entendeu que nunca soube.
Nunca foi,
Nunca teve,
Nunca entendeu.
Nunca ensinou.
Nunca se entregou.
Nunca soube voar.
Nunca sentiu nada...
Nem sequer o fim.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cascata

Ainda que não fosse apenas só um que causasse toda a calma,
E que todo o resto de felicidade tivesse alguém de provar,
O que sobra do que existe não é de mais para se mostrar.
Pelas dós de um solitário, quem demonstra não fala,
Pois se passa de vida em vida o que não se satisfaz,
E falta a forma de como se expressar com coragem.
Resta um ruído de longo e áspero inaudível.
Não resta esperança,
Não resta nada,
Não sobra,
Só falta.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O cheiro de um anjo contém,
Junto ao hálito de um recém nascido.
Me traz a lembrança de todo gosto,
E do que não gosto também.

Me ganha aos poucos,
Com formas e gestos me conquista,
Em trocas de olhares ainda,
Perde a graça, para ouvidos moucos.

Pena e alegria de quem assiste,
Como graça e raiva, sempre enervante.
Não sabe o que diz, nem o que pensa,
Mas age, assim, de forma agoniante.

De pouco em pouco deixa passar,
as areias do meu tempo entre seus dedos,
Não consegue se apaixonar,
vivendo a solidão, só, em seus prantos.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Espreita.

Pelo bem de se ser a divindade interna clama.
E entre mil carnes se esguia.
Mas nenhuma forma pronta alcança.
E o mal que espreita, geme e grita, 

Tempo ao tempo, coisas da vida fugaz.
Que trabalham, mas nunca se cruzam.
Multiplicam-se e, vêem em paz.
E ante os sentimentos se curvam.

Rumos estreitos, caminhos distantes,
Chamando um nome, por piedade.
Pontes inacabadas entre os montes
Clamores ao vazio por pura vaidade.

Sois vós, águas que purificas e limpas
Os vasos tortos e quebrados.
Ou a chuva que destrói e ensina?
Rumores aos ouvidos, olhares aos mapas.

Faróis fumegantes em cais secos,
Insinuando vindoura maledicência.
Mar aberto, mórbido em olhos secos.

sábado, 16 de junho de 2012

Serpentes.

Eu nunca os vi tirando as meias e as jogando pelos cantos do quarto.
Eu nunca os vi tirando as roupas, desvergonhando-se em frente ao espelho.
Nem nunca os vi presos nas desgraças que vêem em si.
Eu nunca os vi berrando mágoas em suas crenças miseráveis.
Mas também nunca acreditei que existisse miséria tão grande nesse mundo.
Pobre de mim, pobres de vós, espelhos.
De quem vê.
Que arde, morde, queima, rola, chora, diz que não pode mais, e apodrece.
E grita e perde a voz, mas sempre consegue pedir ajuda.
Não somente à sequidão e ao prazer do que ascende e fortalece e destrói.
Mas também ao choro que não se adianta.
Então ri-se.
Rola, se enrola. E queima.
Queima pra morrer e não sabe.
Em chamas, atingido por metal a cabeça lhe rebola.
Sabe que morre pra dizer que sofre, mas não sabe em nome de quem.
E o sofrimento é pequeno porque nunca viu o toque quente do prazer pelo qual morre.
Morre porque não sabe como é quente.
Apenas vê chamas malditas e eternas, mas não entende e sofre.
Morre porque não sabe nem sentir como é péssimo nunca ter sentido.
Morre aos poucos.
E de pouco em pouco rasteja, só rasteja.
Rasteja na miséria da própria maldição miserável.
Não morre sozinho.
Rasteja e leva consigo ainda a lembrança triste de nunca mais poder tocar.