terça-feira, 31 de agosto de 2010

Bem me quer?

Jeito exagerado de enxergar a vida que invadia todas as artérias.

É o que basta para lembrar de como destrói ser uma pedra fria.
Esse lado encantador e fascinante conquista cada vez que se tenta doer o mundo sem o ter nas mãos.
Parece estar tudo certo, mas no fundo arde, como uma ferida latejante, aberta há dois minutos... e o tempo não é mais o mesmo rei.
Paralizado e com a língua enrolada no céu da boca. Gaguejando e chorando feito criança assustada diante de sonhos incertos.
Nenhum bobo é capaz de obter o respeito que quer.
Tanto o tempo vivido, com besteiras nefáveis e que se sabe não terem fundamento, acaba tornando-se um emaranhado de pensamentos perdidos no instante... e não é necessário viver.
Não é necessário viver?
Antes esquecer, então?
Tempo ao tempo e os pensamento vão se desapegando como musgo que se rompe a cada vez que o sol se torna mais intenso.
E as escolhas? Até onde alguém é capaz de abandonar tanto?
As vezes é possível ficar um tanto calejado, se escondendo dentro de um escudo que só seu forjador pode ver e, de alguma forma, só quem o detém o sente. Onde pode se sentir acolhido e confortado.
Aconchego é um pouco do que todos buscam... Ainda assim, essa sensação de paz é real?
Mesmo parado no tempo pode-se ver o que acabou de chegar.
Porque ainda há tanta tensão se há tanta distância? Por que o incômodo?
Pensa.
Algumas vezes são criados limites tão íntimos que não se vê quando são ultrapassados, mesmo que criados sobre alicerces alheios.
Há a distância. Mas da mesma forma há os limites que foram ultrapassados por tanto que já não existe mais qualquer retorno.
Havia de haver cada vez mais inspiração.
Mas em meio à procura vazia e louca por símbolos alguma coisa brilha. Algo que laça olhos e acorrenta corações.
Vácuo. É o que define. Carência sem precedentes e sem futuro.
A solidão sabe causar constrangimento de uma forma com a qual ninguém sabe lidar: através do espelho.
Não se pode alguém simplesmente acostumar-se com o desamor.
E não se pode acostumar com o que não se conhece.
Sempre novo e sempre tão cansativo.
Ninguém vive sozinho. É bobeira... E bobeira é não viver a realidade, já dizia o poeta.
Não há coração perdido, abandonado ou esquecido por aí... Há a realidade de nunca ter respeitado e amado o que se tem. Espaço para sentir-se por si só.... e o que sobra é tanto carinho...
Há momentos em que pode-se despreocupar das coisas que te atormentaram sem precisar se vingar de ninguém ou destruir coisa alguma, ou extasiar-se em um conhecido e desesperado riso exagerado.
Aos poucos e sem pressa o mundo se torna algum lugar onde os sentimentos verdadeiros tomam a própria identidade. Sem inventividades, contradições, sem ações, omissões e necessidades instrínsecas de reformar-se pelo simples fato de tornar as coisas cada vez mais atraentes.
Tanta bobeira devora cada sentimento que deveria ser observado como realmente são. E quando são enxergados... óh!, alguma coisa em nova se transforma.
Pode não haver mudança em cada pontinho ou frase usada de forma perfunctória, algo a fim de camuflar uma realidade triste, ou feliz, confusa ou não... Mas de uma forma ou outra o que importa é saber o que se gosta, o que se adora, o que se quer por perto... o que se ama.
Reconhecer-se como um ser humano comum pode até parecer vergonhoso em algumas circunstâncias... Embora possam haver perdas terríveis... sabe-se que a única coisa que não há conserto é a morte.
E embora seja a própria morte o que se procure, a morte de verdade, de verdade, não existe pelo simples fato do querer.
O querer é tão passageiro quanto uma chuva em meio a esse inverno seco, e por mais que o choro surpreenda as maiores nuvens, quando os olhos se secam e as lágrimas deixam de embaçar as cores... a verdade vem a tona. É o que constrange.
A única verdade é que se ama. Ama-se. Ama-se o que se tem. Para si e para o que vier. Ama-se por amar e ser amado, por mais surpresa que possa causar.
Simples e tão desconhecido.
Sente. Parece pouco, mas sente.
Muitas vezes descarregar o coração das próprias frustrações faz um bem que não se compara ao canto de milhares de anjos.
Não há qualquer sensação que possa eximir os sentimentos que são guardados como bombas-relógio no fundo do coração... Esses que são os mais perigosos.
Aqueles que se guarda por mais tempo. Os mesmos que podem fazer com que a realidade se torne um sonho quase-eterno.
Quase-eterno.
Pois ninguém dorme pelo tempo que quer sem que a vida incomode com aquilo que a própria vida espera para si mesma.
Autocontrole é utopia de poucos... mas existem as escolhas... E as escolhas serão vistas sem precisarem ser alardeadas.
Sem enganos... algo mudou... não que haja absurda certeza... mas o sentimento execrável que incomodava decidiu encostar-se em alguma parte mais cinza, deixando, então, fluir mais cor. Alguma coisa aconteceu.
Não há necessidade de sentir, provar, palpar, ver, tatear, farejar, assustar, rir, falar, tocar, ouvir, testar... ... .... Porque simplesmente pensa-se que agora o que há de vir virá, o que houver de ser será.
O que se causa pela tristeza do que se chama querer é o que pode matar os sonhos com os quais não se deve sonhar.
Ousa-se sonhar, mas não querer desse modo transtornado.
Humildade hipócrita restou da inveja invasiva.
Coração sangrento restou do coração de pedra cinza.
Esperança restou a quem não quis mais nada além do que não podia.
Sonhos restaram a quem queria ter mais do que os sonhos que nunca teve.

O menino-sem-coração viu o próprio coração,
Regozijou-se na saudade,
Abraçou-o,
Viu o quanto era bom,
 
Sorriu.
Acordou,
E não fez nada.
Sentiu-se,
Viu o mundo à sua volta,
E então admirou a beleza que não via.