quarta-feira, 20 de junho de 2012

Espreita.

Pelo bem de se ser a divindade interna clama.
E entre mil carnes se esguia.
Mas nenhuma forma pronta alcança.
E o mal que espreita, geme e grita, 

Tempo ao tempo, coisas da vida fugaz.
Que trabalham, mas nunca se cruzam.
Multiplicam-se e, vêem em paz.
E ante os sentimentos se curvam.

Rumos estreitos, caminhos distantes,
Chamando um nome, por piedade.
Pontes inacabadas entre os montes
Clamores ao vazio por pura vaidade.

Sois vós, águas que purificas e limpas
Os vasos tortos e quebrados.
Ou a chuva que destrói e ensina?
Rumores aos ouvidos, olhares aos mapas.

Faróis fumegantes em cais secos,
Insinuando vindoura maledicência.
Mar aberto, mórbido em olhos secos.

sábado, 16 de junho de 2012

Serpentes.

Eu nunca os vi tirando as meias e as jogando pelos cantos do quarto.
Eu nunca os vi tirando as roupas, desvergonhando-se em frente ao espelho.
Nem nunca os vi presos nas desgraças que vêem em si.
Eu nunca os vi berrando mágoas em suas crenças miseráveis.
Mas também nunca acreditei que existisse miséria tão grande nesse mundo.
Pobre de mim, pobres de vós, espelhos.
De quem vê.
Que arde, morde, queima, rola, chora, diz que não pode mais, e apodrece.
E grita e perde a voz, mas sempre consegue pedir ajuda.
Não somente à sequidão e ao prazer do que ascende e fortalece e destrói.
Mas também ao choro que não se adianta.
Então ri-se.
Rola, se enrola. E queima.
Queima pra morrer e não sabe.
Em chamas, atingido por metal a cabeça lhe rebola.
Sabe que morre pra dizer que sofre, mas não sabe em nome de quem.
E o sofrimento é pequeno porque nunca viu o toque quente do prazer pelo qual morre.
Morre porque não sabe como é quente.
Apenas vê chamas malditas e eternas, mas não entende e sofre.
Morre porque não sabe nem sentir como é péssimo nunca ter sentido.
Morre aos poucos.
E de pouco em pouco rasteja, só rasteja.
Rasteja na miséria da própria maldição miserável.
Não morre sozinho.
Rasteja e leva consigo ainda a lembrança triste de nunca mais poder tocar.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Os assombros chegaram.
Sopraram. Rugiram.
Medo não causaram.
As orações vieram.
Também não acalmaram.
Mentes inquietas.
Assobios. Palavras.
Maldições.
Encontraram pedra.
Pedra fria.
Fria e preparada.
Confronto.
Nada amedronta.
Queda boa.
Aprendizado.
Reconhecimento perfeito.
A religião, amor.
Porque você está por perto.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Pelo resto que há de se valer, nada se explica.
E ainda que se peça benção ao amaldiçoado
Ele nem sempre seria sincero.
Areias movediças afundam o menos desprevenido,
Morte sorrateira espera as bolhas de sentimentos efêmeros que não têm fuga.
Sorte de desencontros que saídas não importam.
Cante seu coração e ainda assim as cinzas vêm de frente.
E o fogo que não existe esquece o medo do gelo que enfrenta.
Nada vem em mente.
Nada encontra o tudo.
Tudo torna-se um turbilhão.
Que se torna uma bagunça.
Nada resolve,
Nada transforma,
Nada é algo.
E algo é verdade,
Mas ninguém se encontra.
E tudo se vê como mentira.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Em meio ao vinho

Sabe aquele tempo em que você se sente fraco?
A todo momento você se sente inserido no deserto que criou.
Você pode amar todo mundo que quiser, mas ainda assim não é capaz de encontrar um coração para te achar.
Logo você enxerga que nunca vai se achar se estiver sempre perdido, então nunca encontrará nada.
E é por isso que a imaginação não deve se perder dentre a escuridão e a criatividade.
Entre o tempo e os perfumes existe muita vida pra quem acha que sabe de tudo e pra quem percebe uma pequeneza gigantesca em uma janela que não existe.
Ficções humanas criadas antecipadamente nunca satisfarão um amor vindouro
nem qualquer paciência que virá.
O amor não existe.
Não existe entre as membranas malditas do ser que existe entre nós todos,
Que só sabem se arrepender a cada momento,
Querem o tempo todo dizer que deu tudo errado ou que não podem fazer nada pelo que nunca poderia dar errado se não se esforçassem um pouco mais.
Amar é uma fraqueza?
Que então eu seja fraco para sempre.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Nu

Meu topete estava lindo,
Mas chegou você como a brisa do oceano.
Chegou assim, como quem não queria nada.
Tão de leve levou meu topete,
Levou me cabelo,
Levou minha careca,
Levou minha pele,
E até meu sangue.
Quem é você?
Quem é você?
Você que me roubou tudo?
Em você quem dorme
Nada, sombras, delírios
Me implore seu corpo
Agora
Mas só meu suspiro
Rejeita a sombra de ser
Coberta de seus agudos ligeiros
Nem graves e nem mortos
Podem me convencer
Eis o teu pranto
Chove noite densa
Pela pura madrugada
Negra és tu envenenada
Cheia de desapegos
Sem querer, sem suor
Encanta os mudos
És você
Forma sem sombra
Que me apaixona