sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Asas


Queria que tivesse saído sangue,
Que ardesse, doesse, morresse ou vivesse mais.
Mas logo que abriu os olhos viu que não foi nada.
Um resbalo, íngreme e fervoroso.
Às encostas de um abismo,
Junto à própria pena do medo de cair,
Sem cair.
Machucada ao chão onde se encontrava, nem levantou.
Não conseguia.
Ria-se e desdizia-se.
Como se a vida fosse apenas uma gangorra da qual se poderia pular a qualquer momento.
Mentes atentas diziam que não era bem assim.
Teimosia dessas... que se acha corajosa e que se sente soberba... não se atenta.
Se quebrou novamente, duas, dez, vinte vezes... sem saber.
Gostava de se machucar.
Sentiu os ossos rasgando sua pele... apenas suspirou, não via.
Não sentia dor.
Não sentia, não sente.
Só queria ficar esperando.

Armou-se novamente.
Sentindo-se fênix. Imortal.
E tentou voar com as mesmas asas quebradas de outros tempos.

Mas naquele momento a imaginação a acompanha em um túnel escuro,
Hostil e silenciosa,
Na velocidade da luz que a espera ao fim de uma chegada morna e sem uma dor tão dolorida quanto o tempo que não resta,
Percebe que nunca soube de nada,
Nem da própria dor, nem da angústia do que viveu outrora.
E perdeu-se no emaranhado de lembranças amadas de um dia.
Abriu os olhos quando já não pode mais nada tocar.
Percebeu suas fraquezas por não saber viver bem.
Então foi que entendeu que nunca soube.
Nunca foi,
Nunca teve,
Nunca entendeu.
Nunca ensinou.
Nunca se entregou.
Nunca soube voar.
Nunca sentiu nada...
Nem sequer o fim.

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